|

"Medidas drásticas devem ser tomadas para prevenir uma catástrofe", diz conselheiro do governo alemão

Christian Schwägerl
Uol Notícias - 07/09/2009

Em entrevista à "Spiegel Online", Hans Joachim Schellnhuber, o conselheiro do governo alemão para proteção ao clima, argumenta que medidas drásticas devem ser tomadas para prevenir uma catástrofe. Ele está propondo a criação de um "orçamento" de CO2 para todos os habitantes do planeta, independentemente se vivem em Berlim ou Beijing.

Spiegel Online: Há uma saída?

Schellnhuber: Num estudo especial nós descrevemos uma possível saída. A WBGU também descobriu países que emitem muito menos CO2 na atmosfera do que a quota os permitiria. A maioria desses países está entre os mais pobres do mundo, onde a proteção climática e o futuro são problemas centrais. Essas nações estão nos salvando, evitando que a mudança climática aconteça num ritmo ainda mais rápido. Isso deveria ser por fim reconhecido e recompensado. Por esse motivo, elaboramos um esquema em que as nações industrializadas podem comprar cotas de emissão de países com níveis mais baixos de emissão de CO2. O dinheiro ganho com esse comércio global de emissões poderia então ser usado no financiamento de tecnologia sustentável e no desenvolvimento desses países.

Spiegel Online: Então as nações industrializadas teriam de pagar somas massivas de dinheiro?

Schellnhuber: Sim. Até ? 100 bilhões (R$ 263 bi) por ano. Se o um sexto mais rico da população do mundo tivesse que pagar essa quantia, cada pessoa deveria pagar ?100 (R$ 263) por ano. O Ocidente retribuiria parte da riqueza que tomou do sul nos últimos séculos e estaria em débito com países que hoje estão entre os mais pobres do mundo. Entretanto, será necessário assegurar que os países pobres usem o dinheiro para os propósitos estabelecidos - ou seja, para ajudá-los a desenvolver uma economia mais verde. Isso os ajudaria a se adaptar a um mundo mais ecoconsciente em relação ao futuro e também evitaria que as nações industrializadas enfrentassem problemas ainda maiores.

Spiegel Online: Mas até agora tem sido difícil mobilizar dinheiro para metas ambientais.

Schellnhuber: Sim, mas será muito mais caro continuar do jeito que estivemos levando as coisas até agora. As quantias podem soar gigantescas, mas os investimentos em infraestrutura e fornecimento de energia são necessários [nesses países] de qualquer forma. Nosso objetivo é apenas assegurar que esses investimentos sejam sustentáveis - algo que podemos garantir com um custo extra relativamente pequeno. Principalmente na Alemanha, onde a tecnologia ambiental tem um padrão relativamente alto, há um enorme potencial para o benefício econômico, porque o dinheiro investido pode fluir diretamente de volta para o país. Esta é uma oportunidade de ouro para mudar o curso das coisas. Se você incluir os custos a longo prazo da mudança climática, esta seria uma opção barata.

Spiegel Online: Os alemães gostam de se vangloriar por serem campeões da luta contra a mudança climática. Isso é justificável?

Schellnhuber: Em relação a outros países, a Alemanha faz bastante coisa para combater a mudança climática, mas isso não é desculpa para nos acomodarmos, colhendo os louros e esperando até que os outros nos alcancem. Ainda não atingimos nosso objetivo final.

Spiegel Online: O senhor acha que a chanceler Angela Merkel apoiará sua proposta?

Schellnhuber: O que nós elaboramos na verdade não é nada mais do que um resumo do que Merkel já disse no passado. Ela é uma das defensoras da meta de dois graus, do comércio de emissões e do direito igual a cotas de emissões para todos. Nós simplesmente colocamos isso num plano abrangente. O fato de que as cotas de emissões da Alemanha estarão esgotadas em 10 anos se não mudarmos os hábitos só pode significar uma coisa: o próximo governo precisa adotar um pacote climático drástico imediatamente. Isso nos ajudará a desenvolver as tecnologias sustentáveis de amanhã muito mais rápido.

Spiegel Online: Dado o ritmo lento das negociações sobre o clima nas Nações Unidas, seu plano não é exageradamente idealista?

Schellnhuber: O WBGU não é político; nós meramente aconselhamos o governo e apresentamos nossos estudos e descobertas para o público. Nossa ideia de "orçamento" não tem nada a ver com utopias, mas sim com as condições físicas sob as quais podemos evitar que nossa civilização seja destruída. Nossa principal responsabilidade é fornecer uma bússola que mostre se o governo está de fato no caminho certo no que diz respeito a combater a mudança climática. Não podemos pedir à Índia ou à África para interromperem seu desenvolvimento econômico até que o Ocidente tenha controlado a mudança climática.

Sobre Hans Joachim Schellnhuber
Hans Joachim Schellnhuber, 59, é um físico e pesquisador da mudança climática mundialmente famoso. Depois de trabalhar na Alemanha e na Califórnia, ele foi nomeado diretor-fundador do Insituto Potsdam para a Pesquisa em Impacto Climático (PIK) em 1991. Ele também é professor de física teórica na Universidade de Potsdam e professor-visitante da Universidade de Oxford.

A entrevista completa, http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/09/07/ult2682u1303.jhtm

0 comentários:

Postar um comentário